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Faleceu uma das mulheres que me formou. Sofro muito. A par com a minha mãe, irmã, esposa e algumas amigas mais próximas, sinto-me fruto desta árvore portentosa. O esclarecimento não carece de feminismo, é somente a viga mestra da formação de qualquer indivíduo esclarecido. Mas claro, é preciso a entrega, o desprendimento das regras obtusas da masculinidade. Qualquer homem que se coloque na superioridade de algum patamar fictício, nunca compreenderá isto.
A D.Rosa, foi a minha professora primária. Antes dela, só conheci a minha mãe, algumas tias, a minha madrinha e a minha irmã, depois do primeiro dia de escola primária, fiquei a saber sobre a existência das mulheres fora do sangue, e de como também estas nos conduzem os caminhos da vida. É que, uma boa professora primária não nos ensina apenas o BeàBá e a aritmética básica. Se for excelsa no que faz, conduz-nos o futuro e molda-nos a estrada que palmilharemos doravante.
Assim aconteceu comigo. A D.Rosa (minha professora) e a D.Georgina, sua irmã de sangue e de profissão, ambas professoras primárias na escola de Azurara, meteram-se no meu caminho e não olvidaram a mais relevante premissa desta árdua tarefa de se ser professor: prometer optimismo!
Por quatro anos andei a aprender a ser o que sou hoje, e depois mais e depois mais...nunca será demasiado enaltecer quem nos ensina a ser. É o fulcro de qualquer sociedade esclarecida. 
Conservo-a cá dentro porque foi a primeira e fez um trabalho tão bom, que jamais a esqueci. Recorda-me um dia, muitos anos depois, em que um grupo de seus ex-alunos lhe foi cantar os parabéns à sua porta de casa.
Se isto não disser já tudo, é porque, realmente, pouco mais há a dizer sobre o poder beneplácito desta mulher, naqueles em que tocou.
Saudades eternas, D.Rosa. Foste o meu primeiro amor!

Ei-la presente. estou sentado na frente com uma bata cinzenta que o meu pai me fez.



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