(...)
O homem ia bêbado no comboio
enquanto o dia nascia por trás dos quintais
as casas alegres dormiam tão tristes na escuridão,
e os gatos e os cães pelas vielas
aos pares brincavam aos animais
para louvar a deus ou aliviar o peito.
Dentro de mim morria gente todos os dias,
por noites florindo sem apoio
debaixo de uma redoma assim eu não me ajeito
somente rastos de pó e cicatrizes tão belas
incrustadas de mãos caídas, baças pedrarias
todas confidenciais.
A luz filtra-se pelas pedras sem razão
e a insónia do fim retirou-me a força das pálpebras
indefesas para falar.
Lá fora, no escuro
nas ervas daninhas, nos ramos nus, no que está acabado
pousam pássaros minúsculos
que são apenas, nunca perguntam o que está agora
ou o que foi ou se chegará algum messias.
Não pedem de comer, nem cantam
são o que são em qualquer hora.
Quando me levantar
o céu estará morto e saqueado.
Por dentro, serei sempre só um muro
de gente de mim, que só morre e morre,
todos os dias.
"Todos os Fogos são Fevereiro"
Poesia - 2017
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