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Gabriel era um palerma, sim, um débil pamonha cheio de fraquezas emotivas. O pai dele era o seu inverso, o Hermenegildo acredito que fosse selvagem, sem dúvida. Os gonzos descambados da porta assim o provavam. Como é que alguém nãoselvagem conseguiria vergar aquelas dobradiças num empeno, com a simples força do seu corpo? - Além disso, havia também a história, sim, aquela misteriosa história que o Gabriel, a muito custo nos contou certa vez, sobre ele.
Não era uma história sobre o senhor Almeida entendam, mas tão-somente a história do bravo Hermenegildo Almeida. – Há aqui uma notória diferença. - Onde este, dotado de um sangue mais vermelho que a maioria, e com dezassete anos apenas, fugira de casa sem qualquer aviso, rumando a Espanha, para se juntar aos retalhos das brigadas internacionais, os soberanos republicanos que lutavam contra o fascismo do General Francisco Franco. Gabriel não era exactamente um bom contador de histórias, de modo que tivemos de fazer as contas e imaginar o resto.
Mas, nem imagináramos então ou depois, o que era aquilo do fascismo. Já começávamos a ter umas luzes sobre a ditadura, todavia, o fascismo, ainda permanecia longe, enevoado, distante da nossa parca compreensão.
O que nos fascinou nesta história foi sobretudo a bravata do Hermenegildo, ou o histrionismo da sua coragem, não estou bem certo. O desvelo de heroísmo que conduz um homem, das nossas vizinhanças, a fazer tão longo percurso pelo seu próprio pé, e mostrar espécie a um general, que não se dignou a prestar contas a ninguém, excepto a Deus e à história. (...)
"Duas Vidas Sem Importância"
Romance (ainda no disco duro) - 2010
Casimiro Teixeira
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