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Fazer excertos é mais fácil que morrer.


(...) Assim te vi no princípio,
onde nada nunca está onde é suposto.
Eras uma casa feita em segredo.
Todas as casas têm baús misteriosos cheios de cartas de amor
em porões de saudade, 
escondidos nos escaninhos mais profundos,
entre as peças inacabadas de dominós de alabastro, 
as colchas garridas da tia louca, 
os acessórios do sexo esquecido, 
a parafernália do animal morto, 
os vídeos descartados ao inferno do digital, 
as decorações de natais estéreis, 
os livros por publicar...
Tantos livros por publicar.
Mas, só as cartas de amor, meu amor, nossas cartas, 
tantas cartas de Amor desperdiçadas,
nesse poço desigual,
sobrevivem.

Sabes...

Em cartas de amor esquecidas nem os bichos vermes ou as coisas encravadas, ou a mais ténue esperança conseguem sobreviver de todas as possíveis maneiras que a literatura lhes reserva.
As cartas de amor são a mais nua e democrática escrita inútil já inventada.
Ficam para ali, eternas
a serem perfeitas e sem uso
nas casas que nem sabem que são casas! (...)

in:


...Por publicar ou auto-publicado ou sei lá, sei lá que caralho mais hei-de fazer.

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