Avançar para o conteúdo principal

Bosques Esquivos




Nunca se dilui entre a escuridão
se perfaz na esperança de luz,
ou se curva assustado por entre os caminhos.
É um rochedo constante que as tempestades nunca alteram.
A estrela mais fixa a todos os caminhantes errantes
o brilho claro, mas sem matéria,
que jamais se torna joguete do tempo.
Mesmo que a carne o sofra, no peso da sua fúria.
Fica monólito, algures uma presença etérea,
também.
E uma falsa partida, ele é aos sobretudo ignorantes,
 mais um caminho errado, uma artéria
suja de tanta errada miséria,
onde se desavindam os maus amantes.
Não é produto nem inspiração de algum tempo de bem
só deita sangue desgovernado da sua insensatez venérea.
Ele é escrito mas lido jamais.
Pobre azul que nunca conheceu os pais.
Triste mar sem praia mais além.
Contudo ou nem por isso,
fez grato o caminho contrário à desidéria.
Comeu a crueza dos dislates de seus mandantes.
E morreu impróprio pelos dentes dos canibais.
Se tudo isto for falso e o provarem assim,
nunca o escrevi
e desde sempre até ao fim
absolutamente alguém amará outro alguém,
exactamente, 
como previ.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

A queda de um anjo triste.

Desafogados brilhos desta existência, quis olhar em frente, e vi somente escuro. Escuro, escória, lixo, lama e penetrante breu. Quis seguir em frente e não mo permitiram. Quis marcar presença, caí, e fui banido. Quis viver, e fui marcado a fogo com o rótulo do nada. Malditas palavras que me acendem esta vivência, pudera eu ser livre, e não viver por trás deste muro. Ser vento, ou poeira, e correr solto pelo esplendor deste céu. Malditas palavras que de mim emergiram, ainda mal as proferia, e já as via, abafadas em seu ruído, como se fossem pássaros, abatidos em revoada. Como eu mesmo, abatido assim, em tenra idade. Mas sosseguem, pois sou coisa irritante que insiste em não morrer. Malogrado pela estupidez do desprezo, sou, ainda assim, Homem! Homem! Homem... Estou vivo, e não desabo. Desafogado percurso que ainda mal começa, não verás teu fim nesta desdita amordaçada. Quis dizer o que quis, e não me faltou a vontade. Mais fáci

António Ramos Rosa, in "O Grito Claro" (1958)

O Incidente de Plutão (Parte II)

Continuação... Xavier sonhara o corpo de uma loura por semanas, nos intervalos em que se convencia a si mesmo que a amava porque sim. Mas que desacato. Não tinha heroísmos em part-time para dar a ninguém e por isso se pusera a fazer teatro no fim do trabalho como forma de não se maçar a si mesmo. Era um salto à vara espantoso, se de tantos lados que procurou socorro, este lhe chegasse através desta mulher. Doroteia, vista pelos seus olhos era a mulher mais bonita da cidade, e ai de quem o  contradissesse. Não era que o dissesse a ninguém, de todos os modos só se queria deitar com ela e deixar-se adormecer ao seu lado como uma fera amansada. Era tudo matéria de sonhos. - E o que foi que tiveste de fazer pelo teu pai? - Arriscou a pergunta. Não foi pronta a sua resposta, apesar de se perceber na comissura dos seus lábios os indícios de um longo diálogo consigo mesma - precisamos de falar sem rodeios - ouviu depois o rapaz dizer. - Isto é, se queres que fique e te escute. Quer