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A voz de Deus


Se acaso não tiveram a boa sorte de assistir à chuva de estrelas de ontem, (eu não apanhei nada, mas o lugar também não era o melhor para o deslumbre) isto é exactamente igual. Ou, se quiserem, fechem os olhos, e será o mais próximo que conseguirão imaginar de tal celeste espectáculo.
"A Kissed Out Red Floatboat" e "Spooning Good Singing Gum" são dois títulos do álbum de 1988 dos Cocteau Twins, "Blue Bell Knoll's", que soam quase como itens de um menu em um restaurante chinês, mas evocam uma espécie de felicidade que se encontra na solidão de se estar a pescar em um lago de montanha, ou aquela emoção avassaladora de nos aproximarmos lentamente, de algum animal, sabendo que teremos de o fazer o mais calmamente possível, de modo a não o assustar. A observação relaxada de estrelas cadentes, encaixa-se aqui igualmente bem, como analogia.
Sobre a composição destas melodias quase imateriais, Elizabeth Fraser disse em tempos que: "é importante colocar-nos na direção da corrente certa, batalhando contra a noção de se ser demasiado esperto. Focando-te em criá-las, em vez de falares ou pensares demasiado sobre elas."
Acredito que seja mesmo assim, e que, a razão de as canções dos Cocteau Twins serem tão livres e naturais, dever-se-á muito provavelmente ao facto de Liz não possuir quase nenhum conhecimento teórico sobre música, ou a capacidade para a ler, tampouco.
Em tempos descrita como "A voz de Deus", o seu canto tem uma qualidade sobrenatural que contraria convenções e assegura não haver comparação entre ela e outras vozes. Isto poderá explicar a sua vontade de cantar sons, de criação própria, em vez de palavras, procurando conceder à voz, uma aura quase estelar, que viaja pelos céus noturnos. Pelo menos, foi este o paralelismo que tentei criar, ouvindo-a, ontem à noite, enquanto buscava pelo firmamento, a queda meteórica das estrelas.






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