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Bons tempos, para variar.


Os senhores tribais de gostos encarniçados,
só demonstram balanços diários incertos.
Nada lhes ferve no sangue, demasiado espesso de tanta gordura ou cultura,
parado em hipnose, em veias entupidas de desdém.
Se me calhar na má sorte, vir um dia ser um destes senhores tão congestionados,
purgados do sangue real que traz vida a todos os desertos,
levem-me a praça pública e fuzilem-me por favor, com uma só bala pura.
Antes quero ser para todo o sempre um eterno ninguém,
que um senhor desconforme de tantos dizeres disparatados.
Hei-de morrer ao alto, no peito verde de lugares com carvalhos despertos.
A palavra escrita nunca é definitiva, mas pode ser tão dura,
como o partir inútil de um coração de alguém.
que nem quis engrossar sequer o bastião dos desesperados.

Miro Teixeira
2014


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