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Respiração em Apneia


Essas tuas palavras mataram um pedaço grande
da pessoa pequena que vive cá dentro.
Já as esqueci na última respiração,
e nunca as lamento por terem sido claras
como um sono de morte abrupta.
Lamento ter de vir aqui outra vez traduzir a sua inclemência,
mas sabe tão bem desabafar,
que nem me importo de ser circular a falar.
Sustenho o fôlego contínuo e vou ao fundo
ver o estado de decomposição das nossas coisas.
Todo o homem sério tem de ser como um bom mergulhador quando pensa; disciplinado, bem treinado, sem ter palavras constritas, espezinhadas nos pulmões.
Um homem a sério ajuda aquilo que diz com os lábios, não com a cabeça, nunca com o coração.
O Coração atrapalha tantas razões
que a súmula de todas as guerras da Humanidade,
poderia esvanecer-se facilmente num nada,
face à ignorância poética deste músculo danado. 
Tudo isto fica ao cuidado dos idealistas que nunca se entendem com a dureza dos falsos realistas.
Os homens a sério respiram do oxigénio de que dispõem,
e não arranjam desculpas para morrerem sufocados pelas mãos de terceiros.
Podendo, expulsam o mau ar,
e retornam à superfície mais limpos do que antes.
Assim é.
E aquelas tuas frases não tardaram em sair,
frases quase constipadas, doentes e o sentido de as dizer é mesmo esse,
purgá-las em ti,
purgar tudo até chegar à cura.
Cura-te então.
Desejo-te uma vida sã,
eu já te purguei na minha última subida em apneia.
E tanto o lamento, que sinto um ardor doloroso no peito.



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