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A dor que corre por trás da dor


Amor, mas só aquele amor.
Aquele amor que nos dá as belezas mais simples,
perfeitas como pessoas, ou bichos ou coisas,
ou coisas de amor que se desenham devagar.
Amor, mas só aquele amor,
que nos ensina lições de alegria, faz delas pressuposto,
até as vir buscar de volta. Até as vir buscar!
Dessossega e depois aquieta-se,
dói, põe, tira, refaz e perfaz e até faz dó de tanto desgosto.
Como se amor fosse sinónimo,
dessa mesmissíma dor.
Amor, mas só aquele amor,
que só nos quer ensinar a audácia,
de estarmos vivos
no devagar do seu tempo.
Talvez não devesse,
não parece muito certo gostar-se e retirar-se
e pelo meio caber o resto de uma vida.
Amor, mas só aquele amor,
só porque mais tarde ou mais cedo,
se fica ou incompleto ou tão cheio,
que só existe ou não existe tempo para a despedida.
Amor, mas só aquele amor,
e não me parece assim tão certo,
esquecer de sentir medo
na dor que corre por trás da dor.
Mas assim é.
Amor não se gaba de ensinar,
quem muito depressa aprende,
é tão fino e misterioso,
em duas metades a juntar,
é tão fraquejo, ingrato e medroso
que por vezes existe, e a gente nem o sente.
Amor, mas só aquele amor,
crepita cá dentro, mas tão lentamente
que demora uma vida inteira na gente.

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