Irei desaparecer
até que o meu corpo seja pisado,
como caules de flores apáticas.
Levarei comigo o sol,
nos olhos,
e saltarei para um ar mais maduro.
Algures, por onde nunca viajei,
cheio de gratidão por ser além,
que aqui, ainda vivo,
e dói tanto tentar abrir os olhos.
Ainda que, os mantenha cerrados
em protesto,
contra o peso da escuridão.
Estes olhos fecharam-se no seu próprio silêncio,
longe, longe dos silêncios que tinham abertos.
E por cada frágil gesto que lhes façam,
ou por mais brutos que estes sejam,
nada, jamais os tocará tanto assim,
talvez por estarem agora tão perto do chão
ou talvez que,
nas curvas adormecidas desse meu corpo,
entrem dedos contrabandistas, de delicada mestria
abrindo-me os olhos, pétala sobre pétala,
como a primavera abre
a eterna devassidão florida, renovada.
O mais simples dos toques
completar-me-á todo o mistério,
estando a carne já descomposta, já corrompida pela terra,
inexistente já,
resta-me o sol no olhar,
e o poder da intensa fragilidade de um leve roçar.
Depois,
mil anos depois,
voltarei a aparecer,
subitamente, maravilhosamente,
a saltar, aqui e ali,
por entre flores claramente mais promissoras.
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