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O último mergulho.


É tudo verdade.
Tu deixaste a tua marca no meu mundo, enquanto eu, apenas o atravessava como um fantasma.
Um dia descobrirás o amor separado das paixões.
Serás magnífica, o fluxo sensacional de tudo o que é magnífico, o salto para diante. 
Por agora peço-te, pára de tremer.
Por favor, pára de te agitar, de sufocar, de te amaldiçoares.
Descansa das complicações comigo.
Por uma hora prometi levar-te até à fecundidade da destruição, depois, soltar-te no mundo,
selvagem, como as redes de balouço egípcias do mercado ao ar livre. 
Embalsamei-te nas minhas secretas viagens, como o guarda das coisas mais frágeis de todas.
Apanhei e juntei todos os fragmentos na memória.
e o teu tempo comigo tornou-se infecundo.
Devolvo-tos, são teus agora.
Para o bem e para o mal.
Correste como o vento, dispersando-me, dissolvendo-me...estou gelado agora, doente de tantas imagens sem brilho sem glória.
Tudo foi feito para ser finito e tudo se decompôe nessa perdição.
Jamais te quis esse destino, jamais...
Sem orgasmos felizes, sem o espírito líquido de um peixe.
Quis-te igual. E esta, é por fim, a verdade.
Igual.
Esta foi, derradeira, a minha maior maldade.
Quis-te um vestido de gente igual a toda a gente,
sem dentes de fogo, sem o apocalipse da obscenidade,
sem os passos do teus sonhos a ecoarem cá dentro.
Uma mulher de mármore com alma de chumbo e com música entre-pernas.
Fui somente a chama incolor do teu sopro, e o teu sopro só queria colorir o mundo. 
Por isso, basta!
Basta de seres apenas uma imagem na minha cabeça
desprovida do movimento da terra, angular ao coração que te alimente.
Preservei-te só naquele momento
em que mergulhaste no cheiro do meu sofá e os nossos corpos se soldaram para a eternidade.
E, este salto parado no tempo,
quero-o agora solto, quero-o agora livre, para ti
e para a tua grande agilidade.

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