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Caramba, ainda vive! Será possível?


"Quer-se “Governo Sombra” como um fantasma na literatura portuguesa, que assombre toda a gente  desde o princípio da selvagaria capitalista, até ao recente período embrutecido do nosso pequeno recanto atlântico. Devia ser obrigatório ler-se este livro, como uma afronta à mitologia heróica que ele é, ajustando contas sem enumerar nomes – mas lá se identifica alguns, nem que seja por ler coisas onde elas não estão. O devaneio de Casimiro Teixeira consegue delinear o cerne de Portugal contemporâneo com imediatismo, sem possuir intenção de rigor histórico. Sem dúvida que se tratam de comentários pessoais e incisivos, estando a história, ou neste caso, histórias, munidas de uma insanidade mais produtiva que a de alguns comentadores que se ouvem na televisão, cujo disfarce de racionalismo opinativo está a mais nos noticiários e canais de informação. Aqui, por outro lado, ainda que divagantes, são apresentadas soluções. E só por isso, mas muito mais, já valerá a pena a sua leitura. Parabéns!"

Opinião do leitor: Ilídio Crato

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A queda de um anjo triste.

Desafogados brilhos desta existência, quis olhar em frente, e vi somente escuro. Escuro, escória, lixo, lama e penetrante breu. Quis seguir em frente e não mo permitiram. Quis marcar presença, caí, e fui banido. Quis viver, e fui marcado a fogo com o rótulo do nada. Malditas palavras que me acendem esta vivência, pudera eu ser livre, e não viver por trás deste muro. Ser vento, ou poeira, e correr solto pelo esplendor deste céu. Malditas palavras que de mim emergiram, ainda mal as proferia, e já as via, abafadas em seu ruído, como se fossem pássaros, abatidos em revoada. Como eu mesmo, abatido assim, em tenra idade. Mas sosseguem, pois sou coisa irritante que insiste em não morrer. Malogrado pela estupidez do desprezo, sou, ainda assim, Homem! Homem! Homem... Estou vivo, e não desabo. Desafogado percurso que ainda mal começa, não verás teu fim nesta desdita amordaçada. Quis dizer o que quis, e não me faltou a vontade. Mais fáci

António Ramos Rosa, in "O Grito Claro" (1958)

A ilusão de morrer.

Aqui estou no pouco esplendor que expresso. A tornar-me mais e mais fraco à medida que envelheço e perco a parca noção de humanidade que um dia posso ter tido. Só antecipo resultados finais de má sorte. Dor, doenças malignas de inescrutáveis resultados, possibilidades de incontáveis suicídios sem paixão, paragens cardíacas no galgar das escadarias de S. Francisco. Atropelamentos fatais nas intersecções de estradas mal frequentadas. Facadas insuspeitas pelas noites simples de uma pacata Vila do Conde. Ontem quis ir à médica de família, talvez me pudesse passar algum veredicto. Não fui capaz. Não admito os médicos e as suas tretas 'new age'. Há menos de meio-século atrás, esta mesma inteira profissão fumava nos consultórios e pouco ou nada dizia sobre pulmões moribundos. A casa na praia valia mais que o prognóstico verdadeiro impedido. Aqui estou, contudo. Ainda aqui estou. Trapos e lixo vivem melhor as suas existências que eu. Escrevo isto, bebo, escrevo, mais três cigarros. Que