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Sou o homem invisível.


Encontrei-te por acaso hoje, e fui incapaz de ter perder,
trazias o mundo nas mãos, e por descuido, nem percebi.
Só tive olhos para ti, e, nem quis saber do resto.
Desenhei teu corpo no ar, com estas mãos que tanto amam,
e escrevi-te um poema, com os olhos que só a ti, te querem ver.
E nem que deixasses cair o mundo que trazias, eu morreria ali.
Terá sido tão casual esta entrega a que me presto,
que nem pressenti o apocalipse, dos muros que sobre mim desabam?

Não, não foi... Eu já sei. Eu não estou, não existo...
E não existo senão para te saber por perto.
Que não existo já sei, pois vejo boiar a inércia do meu ser,
e do tudo inútil que sou, só o olhar persiste, sem fim,
Neste mar calmo de marés onde insensato eu resisto, eu persisto,
em manter esse mesmo olhar sempre desperto.
Encontrei-te à toa, à ventura do teu próprio querer,
Mas peço-te: não me encontres tu, não me vejas tu a mim!

Casimiro Teixeira
2012









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