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Este difícil engenho...

Sempre a favor da minha própria vontade, o novo romance não me sai da cabeça; sonho acordado com ele, e vergo-me, noite após noite à sua tirania. A cadeira está agora ligeiramente inclinada, o que não me permite encontrar bem uma posição certa. Inspiro profundamente e deixo que o fumo substitua a névoa espessa que me bloqueia as ideias. Recordo os bancos dos jardins, e o murete cimentado da marginal. Os fins de tarde, tão tímidos e sem coragem, o fragmento de verde sem fim mal imaginado, e um azul estranho que se me entranha nas memórias com sons e aromas tão definidos que os sinto metálicos nos sentidos. Todos aqueles momentos de mar, inspirados ao longo dos anos, onde me deixara abandonar em tantas outras tardes de inverno, e onde estivera, estou certo de que ali estive, em silêncio, ou em conversas, rindo-me ou sofrendo, já não sei bem.
A falta que a escrita me faz..assemelha-se a um mal físico, que por vezes consigo reprimir, outras vezes, não. Quando se perde a palavra, o golpe é tão profundo, que sentimo-nos esvaziados de fé. Continua a ser possível fazer tudo como habitualmente. É possível trabalhar, falar e amar, mas, todos os movimentos são atenuados pela falta do que nos constitui. Sente-se a falta da luz.

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Desafogados brilhos desta existência, quis olhar em frente, e vi somente escuro. Escuro, escória, lixo, lama e penetrante breu. Quis seguir em frente e não mo permitiram. Quis marcar presença, caí, e fui banido. Quis viver, e fui marcado a fogo com o rótulo do nada. Malditas palavras que me acendem esta vivência, pudera eu ser livre, e não viver por trás deste muro. Ser vento, ou poeira, e correr solto pelo esplendor deste céu. Malditas palavras que de mim emergiram, ainda mal as proferia, e já as via, abafadas em seu ruído, como se fossem pássaros, abatidos em revoada. Como eu mesmo, abatido assim, em tenra idade. Mas sosseguem, pois sou coisa irritante que insiste em não morrer. Malogrado pela estupidez do desprezo, sou, ainda assim, Homem! Homem! Homem... Estou vivo, e não desabo. Desafogado percurso que ainda mal começa, não verás teu fim nesta desdita amordaçada. Quis dizer o que quis, e não me faltou a vontade. Mais fáci

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