Avançar para o conteúdo principal

Desta janela encantada de onde o meu olhar se pendura, vejo todos os dias um casal que ruma já ao final de uma vida preenchida. Todos os dias, se perfilam perante a minha vista, como se ainda mantivessem um futuro repleto de projectos.
É possível que outros olhos que sobre eles se deitem, possam ver somente a tristeza da penúria que lhes reveste os corpos, mas eu, eu vejo um casal enamorado, que ainda vive a vida com um entusiasmo adolescente. Andam sempre de mãos dadas, e partilham tudo. Os bancos de jardim, o saco de plástico de onde se alimentam ao sol, a paixão, o toque carinhoso das mãos entrelaçadas. Sobretudo a paixão, que neste casal parece inabalável. Pergunto-me a mim mesmo: qual será a receita para uma relação de amor, assim tão serena e inoxidável, nestes tempos de horror que nos abarcam? E, como conseguem eles, manter duas existências assim, tão uníssonas ao longo de uma vida inteira? O que subsiste realmente, acima da desdita da realidade? 

Comentários

  1. Talvez a certeza de que aquele momento lhes pertence… talvez a certeza de que os livros precisam de grandes protagonistas e de escritores de alma grande.
    Lindo este excerto, Casimiro.

    ResponderEliminar
  2. Todos os dias eles aqui estão, Maria. Quase como se procurassem o conforto do meu olhar. Não ouso sequer pensar, que vivências terríveis lhes consigna a vida, mas também não posso deixar de os ver. Cativam-me a visão, em especial porque não tentam esconder a miséria, apenas mostram a paixão que os une.

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Este é o meu mundo, sinta-se desinibido para o comentar.

Mensagens populares deste blogue

A queda de um anjo triste.

Desafogados brilhos desta existência, quis olhar em frente, e vi somente escuro. Escuro, escória, lixo, lama e penetrante breu. Quis seguir em frente e não mo permitiram. Quis marcar presença, caí, e fui banido. Quis viver, e fui marcado a fogo com o rótulo do nada. Malditas palavras que me acendem esta vivência, pudera eu ser livre, e não viver por trás deste muro. Ser vento, ou poeira, e correr solto pelo esplendor deste céu. Malditas palavras que de mim emergiram, ainda mal as proferia, e já as via, abafadas em seu ruído, como se fossem pássaros, abatidos em revoada. Como eu mesmo, abatido assim, em tenra idade. Mas sosseguem, pois sou coisa irritante que insiste em não morrer. Malogrado pela estupidez do desprezo, sou, ainda assim, Homem! Homem! Homem... Estou vivo, e não desabo. Desafogado percurso que ainda mal começa, não verás teu fim nesta desdita amordaçada. Quis dizer o que quis, e não me faltou a vontade. Mais fáci

António Ramos Rosa, in "O Grito Claro" (1958)

Três!

  Fui e sempre serei um ' geek '! - Cresci com o universo marvel nas revistas que lia em um quase arrebatamento do espírito em crescimento. O mesmo aconteceu-me com " Star Wars" , e com praticamente todos os bons  franchises que me animassem a vontade.  Quando este universo em particular, ( marvel ), surgiu finalmente em forma de cinema, exultei-me, obviamente. Mais ainda quando tudo se foi compondo em uma determinação de lhe incutir um percurso coordenado e sensato. Aquilo que ficou conhecido como MCU (Marvel Cinematic Universe). A interacção pareceu-me perfeita. Eles faziam os filmes e eu deliciava-me com os mesmos. Isto decorreu pelo que foi denominado por fases. As 4 primeiras atingiram-me os nervos certos e agarraram-me de tal maneira que mormente uma falha aqui ou ali, não me predispus a matar o amor que lhes tive. Foi uma espécie de idílio, até a DISNEY flectir os músculos financeiros que arrebanhou sabe-se lá como, e começar a comprar tudo o que faz um '