Desta janela encantada de onde o meu olhar se pendura, vejo todos os dias um casal que ruma já ao final de uma vida preenchida. Todos os dias, se perfilam perante a minha vista, como se ainda mantivessem um futuro repleto de projectos.
É possível que outros olhos que sobre eles se deitem, possam ver somente a tristeza da penúria que lhes reveste os corpos, mas eu, eu vejo um casal enamorado, que ainda vive a vida com um entusiasmo adolescente. Andam sempre de mãos dadas, e partilham tudo. Os bancos de jardim, o saco de plástico de onde se alimentam ao sol, a paixão, o toque carinhoso das mãos entrelaçadas. Sobretudo a paixão, que neste casal parece inabalável. Pergunto-me a mim mesmo: qual será a receita para uma relação de amor, assim tão serena e inoxidável, nestes tempos de horror que nos abarcam? E, como conseguem eles, manter duas existências assim, tão uníssonas ao longo de uma vida inteira? O que subsiste realmente, acima da desdita da realidade?
Talvez a certeza de que aquele momento lhes pertence… talvez a certeza de que os livros precisam de grandes protagonistas e de escritores de alma grande.
ResponderEliminarLindo este excerto, Casimiro.
Todos os dias eles aqui estão, Maria. Quase como se procurassem o conforto do meu olhar. Não ouso sequer pensar, que vivências terríveis lhes consigna a vida, mas também não posso deixar de os ver. Cativam-me a visão, em especial porque não tentam esconder a miséria, apenas mostram a paixão que os une.
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