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Eu via dormir aquela desconhecida que entrara na minha vida por arrombamento. Não era bela quando fechava os olhos. Toda a sua sedução se concentrava na voz e naquele olhar castanho tímido. Mas reencontrava no sono uma espécie de infância que me enterneceu, o que provocou em mim uma imediata reacção de censura. Qualquer coisa me dizia que, com ela, o enternecimento seria servidão. Que idade teria? Vinte e nove, trinta e três..
Apaguei o candeeiro da mesinha de cabeceira. A luz de um céu demasiado cheio pela lua, impossível de ser verdadeiro, filtrava-se pelos cortinados, banhando o quarto numa penumbra de açafrão. deslizei para fora da cama para desligar o leitor de CD que continuava a debitar a banda sonora do nosso momento clandestino, demasiado fugaz, demasiado errado. Quando abandonei o quarto, e aquele corpo quente desfalecido pelo fragor da paixão, só trouxe na memória aquela música que me acompanhou até ao fim: O que seria?

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Desafogados brilhos desta existência, quis olhar em frente, e vi somente escuro. Escuro, escória, lixo, lama e penetrante breu. Quis seguir em frente e não mo permitiram. Quis marcar presença, caí, e fui banido. Quis viver, e fui marcado a fogo com o rótulo do nada. Malditas palavras que me acendem esta vivência, pudera eu ser livre, e não viver por trás deste muro. Ser vento, ou poeira, e correr solto pelo esplendor deste céu. Malditas palavras que de mim emergiram, ainda mal as proferia, e já as via, abafadas em seu ruído, como se fossem pássaros, abatidos em revoada. Como eu mesmo, abatido assim, em tenra idade. Mas sosseguem, pois sou coisa irritante que insiste em não morrer. Malogrado pela estupidez do desprezo, sou, ainda assim, Homem! Homem! Homem... Estou vivo, e não desabo. Desafogado percurso que ainda mal começa, não verás teu fim nesta desdita amordaçada. Quis dizer o que quis, e não me faltou a vontade. Mais fáci

António Ramos Rosa, in "O Grito Claro" (1958)

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