Nem sempre é bom ocultarmos as paixões que nos
deslumbram, ainda que nos confundam por vezes com o cariz da sua estranheza.
Uma que me encanta particularmente, e à qual nunca
consigo dizer que não, é o nevoeiro. A notícia produz, sem grandes variações de
caso, uma indiferença total a quem a ouve. Mesmo aqueles que melhor me conhecem
hão de pensar com descrédito: Nevoeiro?
O certo é que mal consigo discernir uma explicação
ajuizada para tal fenómeno emocional que se despoleta cá dentro. Sempre que o
vento do mar o empurra na minha direção, fico agarrado sem remédio, e parto
bruscamente para a rua, deixando-me envolver por ele, como se de um manto
protetor se tratasse.
Não sei, já me seduz desde pequeno, e mesmo sendo
incapaz de descrever esta loucura mística por uma mera névoa de humidade,
procuro-o sempre, mais até, chego por vezes a ansiá-lo.
Talvez seja a lenta litania da ronca que me
hipnotiza neste estado de transe, talvez somente revele, um pouco senso atinado
da minha parte. Não seria a primeira vez que acabava perfurado em vergonha, por
algum par de olhos transeuntes que me apanhassem desprevenido neste estado de
embriaguez sentimental, e hoje com certeza que não será a última.
A noite de hoje surgiu-me assim, encharcada de
neblina até aos ossos, e já me fogem as mãos da escrita para correr ao seu
encontro. Tenho de ir, não vá ele fugir-me num repente, dissipando as gotículas
de água num nada.
Valha-me esta boa sorte de viver aqui, onde o
nevoeiro é sempre marítimo, e nunca me recusa um abraço húmido. Podia ser pior,
e se eu gostasse de trovoada?
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