Avançar para o conteúdo principal

O meu País.

Tentei ver luz no meu país perdido,
de rosto baixo, desolado, inerme,
pudesse eu deslizar para fora sem ruído,
deste chão sumir-me como faz um verme.


Quisera eu não ter cuidados,
e contentar-me em ser patriota no país que é meu,
não ter olhos ou ouvidos p'ra ver os pecados,
ou sentir bem fundo que o país morreu.

Não vale a pena fazer um gesto,
que nada consegue contra esta dor atroz.
Fazer por fazer não adianta, eu não presto,
e a sua morte lentamente me amordaça a voz.

Este medo de fazer há-de matar-me,
São anos inteiros de febre na cabeça,
e quanto mais o veja caindo a toda a pressa,
não encontro forma de adaptar-me.

Adeus país, na ausência meses são anos.
Vou agora, mas volto com brevidade,
Não mais suporto ver-te comido em danos,
por aqueles que foram e nem deixam saudade.

Sou culpado, bem sei, tão grande culpado!
Fui eu quem assim te deixou,
sucumbir moribundo às mãos do potentado,
que de tudo fez, mas que nunca te amou.

Parto sim, mas levo a esperança,
de te encontrar de novo erguido e forte,
não te esqueci cá dentro, no coração de criança,
não deixarei nunca de lembrar da tua morte.

Casimiro Teixeira
2011

Comentários

Mensagens populares deste blogue

A queda de um anjo triste.

Desafogados brilhos desta existência, quis olhar em frente, e vi somente escuro. Escuro, escória, lixo, lama e penetrante breu. Quis seguir em frente e não mo permitiram. Quis marcar presença, caí, e fui banido. Quis viver, e fui marcado a fogo com o rótulo do nada. Malditas palavras que me acendem esta vivência, pudera eu ser livre, e não viver por trás deste muro. Ser vento, ou poeira, e correr solto pelo esplendor deste céu. Malditas palavras que de mim emergiram, ainda mal as proferia, e já as via, abafadas em seu ruído, como se fossem pássaros, abatidos em revoada. Como eu mesmo, abatido assim, em tenra idade. Mas sosseguem, pois sou coisa irritante que insiste em não morrer. Malogrado pela estupidez do desprezo, sou, ainda assim, Homem! Homem! Homem... Estou vivo, e não desabo. Desafogado percurso que ainda mal começa, não verás teu fim nesta desdita amordaçada. Quis dizer o que quis, e não me faltou a vontade. Mais fáci...

...Poderia ser maior! Poderia ser um escritor, em vez deste blogue vagabundo que... foda-se!

  "On The Waterfront" 1954 - Elia Kazan

O Artista que faz falta Conhecer

Um dia desenhei um rectângulo largo em uma folha de papel-cavalinho, não foi salto nenhum, pois em anos antigos, já me tinha lançado a fazer rabiscos aqui e ali. Em pastel sobretudo, e uma vez cheguei ao acrílico, mas aquilo eram vãs tentativas sem finesse alguma. As artes plásticas são um mistério ainda, e uma das minhas grandes decepções como ser humano criador. Essa e a música. Creio até que terei começado a escrever por me faltar jeito para o desenho e para os instrumentos de sopro. Assim que voltemos ao meu rectângulo. Esquissei-o de vários ângulos e adicionei-lhes cornijas e janelas. Alguns sombreados. Linhas rectas e perspectiva autónoma, cor e até algum peso acumulado. Longe do real mas muito aproximado deste. Quando dei por mim tinha o Mosteiro (Stª. Clara) desenhado, em traços grosseiros e pôs-me feliz ter chegado ali, até me dar conta que cometera plágio. O meu subconsciente foi buscar o trabalho do Filipe Laranjeira ao banco da memória, e sem me pedir licença, copiou...