Avançar para o conteúdo principal

Mais almas que Uma.

  
Pierre Bonnard - "Nua em frente à lareira"
Quando te vi nessa noite, eras só pele e calor,
quis sentir-te mais de perto, mas queimavas,
a vontade de te tocar,
com o mesmo fogo que te guardava.
Estendias-te ao alto, indolente, num esboço de pintor,
e nem eras carne, incendiavas apenas, tu queimavas,
teu reflexo, meu espírito, o próprio ar,
que respirava.
Que suplício de fogueira é este que me queima desta maneira,
me prende à cama na visão tua que se esfuma?
Os meus olhos enganam-me, e não te vejo,
e perdi a função viva de te sentir, 
sei-te aí, nua em frente à lareira,
mas sei também que tenho mais almas que uma,
e perdi-te a figura, no calor do desejo,
adormeci pensando no que está por vir.

Casimiro Teixeira 2005



Comentários

  1. Interessante o teu blogue...Li bastante, deixo neste um comentário: escrita que prende, imagens servidas por metáforas adequadas, o jogo polissémico de palavras, como neste caso. Parabéns. :)

    ResponderEliminar
  2. Obrigado Odete, um beijinho.

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Este é o meu mundo, sinta-se desinibido para o comentar.

Mensagens populares deste blogue

A queda de um anjo triste.

Desafogados brilhos desta existência, quis olhar em frente, e vi somente escuro. Escuro, escória, lixo, lama e penetrante breu. Quis seguir em frente e não mo permitiram. Quis marcar presença, caí, e fui banido. Quis viver, e fui marcado a fogo com o rótulo do nada. Malditas palavras que me acendem esta vivência, pudera eu ser livre, e não viver por trás deste muro. Ser vento, ou poeira, e correr solto pelo esplendor deste céu. Malditas palavras que de mim emergiram, ainda mal as proferia, e já as via, abafadas em seu ruído, como se fossem pássaros, abatidos em revoada. Como eu mesmo, abatido assim, em tenra idade. Mas sosseguem, pois sou coisa irritante que insiste em não morrer. Malogrado pela estupidez do desprezo, sou, ainda assim, Homem! Homem! Homem... Estou vivo, e não desabo. Desafogado percurso que ainda mal começa, não verás teu fim nesta desdita amordaçada. Quis dizer o que quis, e não me faltou a vontade. Mais fáci

António Ramos Rosa, in "O Grito Claro" (1958)

Três!

  Fui e sempre serei um ' geek '! - Cresci com o universo marvel nas revistas que lia em um quase arrebatamento do espírito em crescimento. O mesmo aconteceu-me com " Star Wars" , e com praticamente todos os bons  franchises que me animassem a vontade.  Quando este universo em particular, ( marvel ), surgiu finalmente em forma de cinema, exultei-me, obviamente. Mais ainda quando tudo se foi compondo em uma determinação de lhe incutir um percurso coordenado e sensato. Aquilo que ficou conhecido como MCU (Marvel Cinematic Universe). A interacção pareceu-me perfeita. Eles faziam os filmes e eu deliciava-me com os mesmos. Isto decorreu pelo que foi denominado por fases. As 4 primeiras atingiram-me os nervos certos e agarraram-me de tal maneira que mormente uma falha aqui ou ali, não me predispus a matar o amor que lhes tive. Foi uma espécie de idílio, até a DISNEY flectir os músculos financeiros que arrebanhou sabe-se lá como, e começar a comprar tudo o que faz um '