Avançar para o conteúdo principal

Poema 7


Mal posso com o peso da vida,
cangaço atroz que me despedaça,
carrego-o errante em vã desdita,
tentando acreditar que ela passa.

E passa, passa, ela vai,
deixo-a ir sempre há minha frente,
não sou homem que não vai,
mais além do que aquilo que sente.

Tenho vertigens ao viver,
sou peso morto que balança inerte,
na grande preguiça de ser,
o copo cheio que nunca verte.

Já pensei nisso, já contemplei,
o fim avizinha-se-me prazenteiro,
mas não posso, não sei,
dar aquele final passo derradeiro!

E por isso persisto, vivo, avanço,
aguento, de sorriso velado,
a indesejada vida da qual não me canso,
de dizer que dela estou cansado.

Eu escorrego sorrateiro pela borda d'água,
eu imploro, ajoelho-me, rogo a vontade de morrer,
quis o destino que me esvaneça nesta mágoa.
Maldito coração que não pára de bater?

Sou assim, Atlas covarde que sustem,
o fardo surrado desta vivência, deste ser
sou como sou, palhaço triste que tem,
até preguiça ou medo de morrer.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

A queda de um anjo triste.

Desafogados brilhos desta existência, quis olhar em frente, e vi somente escuro. Escuro, escória, lixo, lama e penetrante breu. Quis seguir em frente e não mo permitiram. Quis marcar presença, caí, e fui banido. Quis viver, e fui marcado a fogo com o rótulo do nada. Malditas palavras que me acendem esta vivência, pudera eu ser livre, e não viver por trás deste muro. Ser vento, ou poeira, e correr solto pelo esplendor deste céu. Malditas palavras que de mim emergiram, ainda mal as proferia, e já as via, abafadas em seu ruído, como se fossem pássaros, abatidos em revoada. Como eu mesmo, abatido assim, em tenra idade. Mas sosseguem, pois sou coisa irritante que insiste em não morrer. Malogrado pela estupidez do desprezo, sou, ainda assim, Homem! Homem! Homem... Estou vivo, e não desabo. Desafogado percurso que ainda mal começa, não verás teu fim nesta desdita amordaçada. Quis dizer o que quis, e não me faltou a vontade. Mais fáci...

Acerca de Anderson's...

Hollywood é um gigantesco cadinho demente de fumos e fogos fátuos. Ali se fundem todos os sonhos e pesadelos possíveis de se imaginar.  Senão, atentem, como mero exercício, neste trio de realizadores, que, por falta de melhor expressão que defina o interesse ou a natureza relevante deste post, decidi chamar-lhes apenas de os " Anderson's ". Cada um mais díspar que o outro, e contudo, todos " Anderson's ", e abundantemente prolíficos e criativos dentro dos seus géneros. Acho fascinante, daí querer escrever sobre eles e, no mais comum torpe da embriaguez, tentar encontrar alguma similitude entre eles, além do apelido; " Anderson ". Começarei por ordem prima de grandeza, na minha opinião, e é esta que para aqui interessa, não fosse este um blogue intrinsecamente pessoal onde explano tudo e mais qualquer coisa que me apeteça. Sendo assim, a ordem será do melhor para o pior destes " Anderson's ".  O melhor : Wes Anderson .  O do meio : Pau...