Neste ar daqui, ecoa um murmúrio de queixume,
um fiozinho comprimido de tímidos balidos.
Sentem-se pálidos, quase voláteis como um perfume,
Inundando-me a alma de sonhos despidos.
Sentem-se espasmos, contorções, agonias de voz.
Mínimos, serenos, irrepreensíveis de altivez,
tão pouco se sentem, que chega a ser atroz,
o pouco silêncio que perturbam na sua vez.
Grandes senhores de ferro e fogo e força infinita,
ouvireis vós o lamento que por aqui passa?
Ah sim, tenho febre, e escrevo e isso nem me maça,
mais me desfeita o desdém que votais à minha
escrita.
Pois eu não sou máquina exprimindo seu motor,
e neste ar daqui, neste ar, vou rugindo baixinho,
pelos pedaços em falta que me compõem a dor,
abandonados que ficam ao doer do seu caminho.
Em fúria fora, e eles dentro de mim,
tão suaves a começar, gritantes agora.
Já me arde a cabeça de não lhes ver um fim,
sou inútil quiçá, mas terei também a minha hora.
Destes gritos daqui,
Estupendos, insaciáveis, dissecados de um suspiro,
escutai-os se quiserdes, ou não, até prefiro.
Cala-los é que não posso, pois se já os escrevi.
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