Avançar para o conteúdo principal

Um dia o Jim Morrison perceberá isto.


O fim da manhã deste último dia poderá ser só um quarto.
não vejo melhor forma de lhe contar os inevitáveis desencontros,
entre fazer as camas, dar de comer aos gatos e preparar o pudim de pão
para o jantar de logo mais, com desconhecidos de verdade,
a mesa inteira povoada de desconhecidos.
Alongada, não, redonda, não, oval... talvez (não).
O princípio de tarde deste dia será uma perfeita cidade.
As ruas molhadas, as belas donas de cães estranhos a passearem-nos
e nos canteiros públicos, indigente, entre tanta merda, a relva continua por aparar.
Ergo-me da periferia dos últimos dias demolidos,
e procuro a razão deste fim, entre as calças penduradas ao través
nos cabides desalentados, e as toalhas de banho que apanho do chão.
Chamo-te pela casa vazia como se rezasse ao nosso mar.
Serei sempre um homem rude, e estes acabam assim, destruídos.
Tu já deverias saber que só assim poderia acabar.
Deixas-me publicar este desconforto exposto em osso ao assédio social?
Meu Deus! Em que idade da nossa vida permitiste que me tornasse
um parasita assim, tão inexpressivo, tão igual?
O principio da noite deste nosso dia é um país.
Ocorreu-me que preciso das coxas para o arroz, da banha e do Alentejo.
Há aqui um interlúdio qualquer. A necessária revolta da passagem do dinheiro
de mão em mão.
O pudim coze em banho-maria, os gatos dormem, cada um no seu mundo magistral
e as camas estão tão sossegadas, que até assustam.
Fala, peço-te! Diz!
Não terei já cumprido todos os meus castigos?
Digo-te mais isto: nenhum perdão, nenhum, nenhum perdão!
Voam ténues desperdícios no ar silente lá de fora.
Preciso também de botões de cravinho e de esquecer que hoje é sexta-feira.
Não me parece existir outra maneira,
de aceitar este inevitável agora.
O fim da noite deste dia maldito é um continente.
Tudo fingido a parecer serem nuvens passageiras.
Já nem no fogão tenho fogo. É tudo electricidade inexplicável.
Escapa-me a ascensão do membro que não mente.
Iludo-me por acreditar que é no bar que a existência se torna viável.
Bolas! Falta-me engomar a boa toalha de mesa.
A pior hipocrisia de todas é a vontade de agradar ao desconhecido.
Dêem-me alguma crença melhor que esta para acreditar
de olhos fechados.
Dêem-me o castigo merecido,
mas não trocem mais com os meus sorrisos encenados.
O princípio do próximo dia a seguir a este último dia é um Hemisfério.
A loiça acumulada na banca, e os restos de...
Meu Deus, os restos! A cozinha inteira fede a mau discernimento,
como se se pudesse lavar convenientemente o esquecimento!
Obrigado pela existência, mas para mim já chega.
Todo este dia final, foi algo que nunca quis.
Agora, vou dormir e esperar pela eternidade distante.
Ficaram três coxas a boiarem num mar de arroz aglomerado
dentro de um Tupperware de Take-Away.
Poderás come-las amanhã, e continuares a ser feliz.






Comentários

Mensagens populares deste blogue

A queda de um anjo triste.

Desafogados brilhos desta existência, quis olhar em frente, e vi somente escuro. Escuro, escória, lixo, lama e penetrante breu. Quis seguir em frente e não mo permitiram. Quis marcar presença, caí, e fui banido. Quis viver, e fui marcado a fogo com o rótulo do nada. Malditas palavras que me acendem esta vivência, pudera eu ser livre, e não viver por trás deste muro. Ser vento, ou poeira, e correr solto pelo esplendor deste céu. Malditas palavras que de mim emergiram, ainda mal as proferia, e já as via, abafadas em seu ruído, como se fossem pássaros, abatidos em revoada. Como eu mesmo, abatido assim, em tenra idade. Mas sosseguem, pois sou coisa irritante que insiste em não morrer. Malogrado pela estupidez do desprezo, sou, ainda assim, Homem! Homem! Homem... Estou vivo, e não desabo. Desafogado percurso que ainda mal começa, não verás teu fim nesta desdita amordaçada. Quis dizer o que quis, e não me faltou a vontade. Mais fáci

António Ramos Rosa, in "O Grito Claro" (1958)

Três!

  Fui e sempre serei um ' geek '! - Cresci com o universo marvel nas revistas que lia em um quase arrebatamento do espírito em crescimento. O mesmo aconteceu-me com " Star Wars" , e com praticamente todos os bons  franchises que me animassem a vontade.  Quando este universo em particular, ( marvel ), surgiu finalmente em forma de cinema, exultei-me, obviamente. Mais ainda quando tudo se foi compondo em uma determinação de lhe incutir um percurso coordenado e sensato. Aquilo que ficou conhecido como MCU (Marvel Cinematic Universe). A interacção pareceu-me perfeita. Eles faziam os filmes e eu deliciava-me com os mesmos. Isto decorreu pelo que foi denominado por fases. As 4 primeiras atingiram-me os nervos certos e agarraram-me de tal maneira que mormente uma falha aqui ou ali, não me predispus a matar o amor que lhes tive. Foi uma espécie de idílio, até a DISNEY flectir os músculos financeiros que arrebanhou sabe-se lá como, e começar a comprar tudo o que faz um '