Perdemos tanto de nós nas coisas mais vulgares de todas, nas mais básicas e repelentes. O espírito humano parece sempre voltado ao primitivo esforço de querer alcançar, sem merecimento.
Aos anos que acompanho e idolatro as sessões das Correntes D'Escritas. Para mim, que gosto da literatura, sou português e do Norte, que gosto de escrever e até já fui publicado algumas vezes, é a minha Graceland, a minha Meca. - Eu quero tanto estar ali, mas não posso, ainda.
Onde se peroram as pulsões sexuais da escrita, das anedotas bem-recebidas da escrita, da carne dos escritores que atendem, ou das
diferenças entre ser escritor e não o ser, é ali mesmo.
Por isso é que eu quero lá estar. Porque sou tão invejoso como sou humano, e porque ser humano é ser invejoso também. Não existe mal algum em invejar aquilo que queremos para nós próprios. Levanta-nos. Acorda-nos. - Há que ser forte cá dentro para combater toda esta torrente de inveja e conseguir transformá-la num objectivo determinado.
As Correntes são uma veneração intuída, uma espécie de reverência iniciática da minha parte. Pensar: "Um dia, quando estiver ali sentado consegui!" - Faz parte da vocação de nunca desistir. Mesmo que estar ali sentado nunca venha a ser o mais importante de tudo. O que conta verdadeiramente, o que deve de ser mais puro e honesto, é a escrita em si, não o desejo de viver vicariamente através dela.
Tenho pela frente uma emanação renascentista, que passa facilmente por todas as dinâmicas internas dos acólitos do costume, o corso carnavalesco, na escrita, como em qualquer outra área, discorre da "panache", do estrondo dos nomes,
logo isto nunca poderá ser de outra maneira.
Mas, eu não desisto de escrever, e, pela lei das probabilidades, um dia terá de sair o meu número.
Com alguma sorte (ou talento, quem sabe) um dia, alguém se lembrará de mim e insurgir-se-á contra o facto de ainda
não existir sob a forma de disciplina a entrega do protagonismo a quem nunca o teve. Nesse dia, eu terei algo muito bom, escrito e publicado, e nesse dia também, será Fevereiro, estarei sentado num teatro a falar com deuses e demónios.
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